Autor: José Alfredo Schierholt


Autor: José Alfredo Schierholt
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Montagem: Orestes Josué Mallmann

quinta-feira, 18 de abril de 2013



Meu Jubileu de Ouro Sacerdotal
Abrindo o Baú nº 291, de 10-12-2011



         Hoje, transcorre o dia de minha ordenação sacerdotal, ocorrido em 10 de dezembro de 1961, na Igreja Santa Terezinha, em Passo Fundo, com mais quatro colegas da Congregação dos Missionários da Sagrada Família.

 Para muitas pessoas, isso possa ser novidade. É que raramente falo de minha pessoa, mas nunca o escondi em encontros de catequese, mesmo em meus livros. Por sinal, muitas vezes, assim fui apresentado ao público por colegas sacerdotes. Exerci o ministério sacerdotal por quase 10 anos.


Quando ainda criança, filho mais velho, eu gostava de um tio seminarista, quando vinha nas férias brincar lá em casa. Meus pais alimentavam o desejo de seguir o seu caminho. Ao ser ele ordenado sacerdote, Frei Boaventura Kloppenburg, franciscano, em 6 de janeiro de 1946, fui seu coroinha. Fizeram-me decorar e declamar versinhos na festa da Primeira Missa, “prometendo”  ser padre como ele. Pelas fotos que ele nos mostrava, a vida no seminário era muito bela. No decorrer daquele ano, eu concluí a 5ª série do Primário.

O sonho de prosseguir estudos e deixar os serviços de roça, me encaminhou ao Seminário Menor de Pelotas, em 1947. Lá cursei a 1ª série ginasial. Entretanto, ao terminar o ano letivo, voltei para casa, onde meus pais receberam do padre Reitor a carta de que eu não tinha vocação para ser padre. Não apanhei por esse motivo. O ano de 1948 na roça me parecia um castigo. Não queria ser colono. Nas horas livres, relia meus cadernos de latim, francês, português... Queria voltar ao estudo. Então, a única forma de prosseguir nos estudos era estudar para padre ou freira.  
 

Certo dia, meu irmão estava terminando o primário e chegou em casa com a notícia de que tinha dado o nome dele na escola para ir ao Seminário. Voltei a implorar minha volta ao seminário. Quando o padre vocacional chegou lá em casa para ultimar os preparativos da ida ao seminário, meu pedido também foi aceito e partimos os dois para o Seminário Menor de Santo Ângelo. As fotos que tínhamos visto eram reais: prédio grande, dois campos de futebol, vôlei, grande represa para banhos, aulas de manhã, estudos à tarde, só uma hora de trabalho por dia...

Para encurtar essa história, meu irmão ficou em casa nas férias e eu fui ficando. A vida no seminário era boa por demais. Fui logo escalado para trabalhar na Encadernação, para restaurar livros da Biblioteca dos padres. Eu devorava muitos livros, mesmo os que me fossem proibidos ler.
 


No decorrer dos anos de estudo, eu não sentia dificuldades para ser sacerdote. Para isso, estava recebendo boa formação.

A falha no Seminário estava na educação para o celibato. Era zero. Nem havia orientador educacional ou psicólogo. A cada ano, sentia que minha natureza não estava propensa para ser celibatário. Diante das dificuldades, o conselho do Padre Espiritual era rezar mais, pois ele considerava as erupções da natureza como obra do demônio. Aconselhava-me retornar à capela e rezar, cada vez mais. Ele garantia que isso passava. Na verdade, apenas adiava, sem solução.

Os anos, assim, foram passando, até chegar o dia da ordenação sacerdotal. Não tinha como voltar atrás. Não podia causar esta tristeza e decepção aos pais e parentes. A pressão psicológica era terrível. O castigo da condenação ao inferno estava sempre presente. Quem não atendesse ao “Segue-me” podia estar no lado esquerdo no Dia do Juízo Final. Aquele que põe a mão no arado e olha para trás, não é apto para o reino dos céus (Lc 9, 62). Por isso, o dia da Ordenação foi marcado. A grande festa das Primícias foi programada. Tudo foi muito bonito.

Nos meus primeiros dois anos numa paróquia em Santo Ângelo foram estafantes. Atendia 30 capelas e pontos de pregação, além de atender a juventude nos movimentos de Ação Católica (JUC, JAC e JEC). Sentia falta de colegas e vida de comunidade. Seguiram-se dois anos em Rolante. Já foi melhor, pois lá moravam meus pais. A Obediência me obrigou a me transferir para David Canabarro. Voltei a sentir a falta de uma família.

As orações não conseguem alterar a natureza do homem. Para viver o celibato pleno é preciso ter natureza adequada. É por isso que existem tantos escândalos e pedofilia no clero. O celibato deveria ser opcional.

Para não levar vida dupla e cheia de pecados, cheguei à conclusão de que deveria submeter-me a um longo tratamento psicológico para uma opção livre. Por isso, encaminhei ao papa o pedido de voltar à vida de leigo. Obtive da Santa Sé a Graça de deixar o ministério. Transferi-me para Lajeado em 5-4-1971.

Em 8-12-1971, casei-me com Renê Seganfredo Alievi, que tinha sido secretária municipal da Fazenda em Ciríaco. Por 40 anos, caminhamos juntos para construir um lar feliz, tendo os filhos Leandro, Saionara e Andreia, adotada, os netos Artur (que já retornou à Casa do Pai) e Vinícius. Além de professor, jornalista e escritor, prestamos serviços pastorais voluntários em cursos de noivos, batizados, catequese familiar, diretoria da Capela e Associação de Bairro no Florestal.

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